Contribuição do Professor Eduardo Luís Cortesão para a Grupanálise Portuguesa
Em 1956, Eduardo Luís Cortesão é admitido como Full Member da Group-Analytic Society de Londres.
Logo em 1956 inicia o Movimento Grupanalítico em Portugal. Este movimento conduziu à criação do Grupo de Estudos da Grupanálise, em 1958, da Secção de Grupanálise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria, em 1963 e finalmente da Sociedade Portuguesa de Grupanálise, em 1981.
Eduardo Luís Cortesão contribuiu decisivamente para que a Grupanálise em Portugal adquirisse uma nítida singularidade teórico-técnica e para que o modelo grupanalítico se expandisse, além dos limites originais de método de tratamento psicológico numa situação de grupo, atingindo diferentes áreas da atividade humana, que enriqueceu com o novo enfoque, dilatando-lhes a capacidade operacional.
Nunca se resignando ao aleatório de uma brilhante intuição terapêutica e de um raro senso clínico, Cortesão sempre despendeu labor intenso para dotar a Grupanálise com a credibilidade científica de um substrato teórico coerente e sólido, submetendo as hipóteses oriundas das observações no laboratório clínico, oferecido pelo grupo de análise, ao critério da validação pragmática conferido pelos resultados terapêuticos.
Assim, erigiu conceitos e definiu procedimentos técnicos fundamentais que enformam o que comummente se designa, no campo grupanalítico, por “Escola portuguesa”.
Destes conceitos destacam-se:
- Processo Grupanalítico;
- O padrão grupanalítico: "natureza de atitudes específica que o grupanalista transmite e sustém na matriz grupanalítica, com uma função interpretativa que fomenta e desenvolve o processo grupanalítico. A elaboração terapêutica daqui resultante favorece o propósito de induzir a significação e diferenciação da self individual." (Cortesão) Este conceito foi por ele desenvolvido no workshop de Londres em 1967, nomeadamente na sua articulação com a matriz;
- Níveis de Experiência e Interpretação em Grupanálise;
- Interpretação Comutativa;
- A Realização pelo Negativo e a Criatividade pelo Negativo;
- Equilíbrio Estético na Grupanálise;
- Acção Terapêutica Diferenciada.
Métodos de Grupo
O impacto dos métodos de grupo, a partir de 1956 teve origem no ensino que Eduardo Luís Cortesão ministrou no Hospital Miguel Bombarda e na Clínica Psiquiátrica Universitária do Hospital de Santa Maria.
As estruturas e o funcionamento nos Hospitais e Serviços Psiquiátricos foram profundamente alterados:
- O trabalho em equipa;
- A discussão em grupo;
- Formação de Hospitais de Dia;
- O enfoque multidisciplinar e multiprofissional na formulação do diagnóstico e indicação terapêutica;
- Métodos de grupo na formação médica pré, pós-graduação e contínua;
- Orientação grupanalítica na formação e prática dos profissionais do Serviço Social;
- Métodos de grupo no campo da Terapia Ocupacional.
A partir de 1956, Cortesão providenciou a supervisão em psicoterapia grupanalítica e grupanálise na Consulta Externa do Hospital de Santa Maria. Também em 1956 iniciou a psicoterapia grupanalítica para pacientes psicóticos, no Hospital Miguel Bombarda.
O ensino de métodos de entrevista e Terapia Familiar com orientação grupanalítica, foi iniciado por Cortesão nos finais de 50.
O Serviço Universitário de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, constituiu-se com Cortesão, como um modelo de ensino, investigação e formação que privilegiava a dimensão grupanalítica.
A partir de 1985, em colaboração com o Instituto da Clínica Geral do Sul, implementou um plano de formação dos Clínicos Gerais.
Em 1988 alcançou estabelecer um protocolo de cooperação entre a Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa e o Ministério da Justiça que supervisionou. Foi este protocolo o motor que levou à criação do Departamento de Saúde Mental da Direcção Geral dos Serviços Prisionais e da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental da Direcção Regional dos Serviços Prisionais em Caxias.
Neurose de Transferência
A Neurose de Transferência existe na Grupanálise e procura-se a sua eventual resolução.
"O conceito de Neurose de Transferência em Grupanálise - porquanto originado num enquadramento diferente - existe, é significativo e natural nesta nova situação... É diferente na forma e na estrutura, mas pouco diverge no conteúdo e na função. É diferente mas não é contraditório."
"...os membros do grupo representam, um para cada outro e no todo da situação, um papel fundamental como figuras de transferência..."
"...a intensidade, constância, preponderância e repetição compulsiva de formas de actuar, pensar e sentir tornam-se até mais relevantes e significativas nesta situação de transferência..."
Cortesão defendia a importância da frequência das sessões e da duração da Grupanálise, no estabelecimento da neurose de transferência.
A neurose de transferência é de cada membro no contexto do grupo, ou melhor, da matriz do grupo. Existem pois N neuroses de transferência, tantas quanto os membros do grupo.
Como disse Cortesão a propósito da neurose de transferência em Grupanálise: