Maria do Livramento Ivens Bicudo e Castro de Azeredo Keating
1930-2021
Maria do Livramento Ivens Bicudo e Castro de Azeredo keating nasceu em Ponta Delgada, Açores, a 28 de Abril de 1930 e faleceu no dia 20 de Fevereiro de 2021 em Coimbra, vitima de complicações decorrentes de infecção por coronavírus.
Era filha única de Joaquim Zarco da Câmara Bicudo e Castro e de Maria Eduarda Cogumbreiro Ivens. Foi casada com José Bernardo de Azeredo Keating do qual teve sete filhos.
Viveu até aos 18 anos em Ponta Delgada, tendo feito seus primeiros estudos numa escola da Congregação se S. José de Cluny . Ponderou na sua juventude seguir a carreira missionária. Em 1948, contudo, decidiu ingressar no curso de medicina em Coimbra onde conheceu José Bernardo Azeredo Keating , seu colega de curso, com quem viria a casar em 1956, ano de finalização do curso de ambos. Após o casamento o casal decidiu partir para os EUA fixando-se em St. Louis onde permaneceu por um período de cinco anos ali iniciando as respetivas especializações : José Bernardo Keating em neurologia e Maria do Livramento em Psiquiatria .
Nos EUA teve a oportunidade de trabalhar no Barnes Hospital e de contactar com aspetos da teoria e da técnica psicanalítica. Anote-se que a formação hospitalar em psiquiatria nos hospitais norte americanos era já então de inspiração psicodinâmica e frequente a existência de seminários ministrados por psicanalistas permitindo-se, deste modo, uma visão psicodinâmica em psiquiatria.
Regressada a Portugal em 1961 terminou a especialização em psiquiatria no serviço de psiquiatria do Hospital da Universidade de Coimbra.
Em maio de 1976 iniciou a grupanálise didática com João Azevedo e Silva.
Viabilizando o aprofundamento da formação psicoterapêutica, para a qual fora sensibilizada nos EUA e atendendo ao o seu interesse pelas terapias de grupo , em 1978 formalizou a admissão na então designada SPG onde iniciou a formação teórica formal que terminou em 1982; inicialmente a prática clínica foi feita sob supervisão de Maria Rita Mendes Leal. Em julho de 1991 passou a membro Efetivo da SPG, em Novembro de 1995 a membro titular. Em 2003 como membro didata foi também membro do Conselho Científico da SPGPAG sendo nomeada Secretária do Conselho Fiscal de 1994 a 2002.
Em 1978 trabalhou no Centro de Estudos e Profilaxia da Droga (CEPD) em Coimbra, primeiro a título precário , posteriormente como Chefe de Clínica; contribuiu com a sua formação grupanalítica, para a construção de um serviço como valência terapêutica sob a orientação do psicanalista Carlos Amaral Dias. Neste contexto, para além da instalação de uma Clínica psiquiátrica, foi possível a intervenção psicoterapêutica em situação de grupo e a organização de uma Comunidade Terapêutica Arco-Íris (A primeira comunidade terapêutica para toxicodependentes criada no nosso País).
Em 1990 foi convidada a participar no Gabinete de Coordenação, Planeamento e Combate à Droga assumindo a função de criar um programa de Tratamento de Toxicodependentes em colaboração com a Direção Geral dos Serviços Prisionais. Este empreendimento contou com a colaboração direta de membros da SPG . como Amélia Teresa Leal, Antonieta Ferreira de Almeida , Capitolino Ricardo Bernardino e Domingos António C. Silva que coordenaram um projeto de tratamento de toxicodependentes em meio prisional – a Ala G no Estabelecimento prisional de Lisboa, estruturada nos moldes de uma comunidade terapêutica. Em paralelo procederam à reestruturação dos Serviços Prisionais do País supervisionando equipas dispersas pelo País.
Grande parte de sua vida foi passada em Coimbra onde exerceu a sua atividade privada como psiquiatra, grupanalista, psicoterapeuta e supervisora.
Dotada de apurado sentido do social nunca cessou de colaborar com as instituições públicas, nomeadamente após a sua reforma. Pertenceu `a Juventude Universitária Católica(JUC), envolveu-se no Movimento dos Cursos da Cristandade, do qual recordava, com prazer, a dinâmica relacional criada em grupo a quando das abordagens espirituais( inovadoras na época); colaborou também nas campanhas de alfabetização após o 25 de Abril em 1974 e nas atividades do Graal, movimento feminista católico, a que pertenceu até aos seus últimos dias de vida.
Nunca cessou de colaborar com as instituições publicas, nomeadamente após a sua reforma.
Os que tiveram o privilégio de com ela privar acentuaram a sua postura de genuíno interesse pelos outros, a sua notável capacidade de trabalho, a sua tranquilidade, mas também, a sua presença acolhedora, incentivadora e afetuosa, o seu fino sentido de humor aliados a uma extraordinária capacidade para desfrutar dos mais pequenos prazeres da vida. Nas suas últimas idas à SPGPAG apresentava-se de andar coxeante apoiado numa bengala mas de expressão amável, atenta e muito presente.
Foi seguramente uma referência para muitos de nós que a viram “partir” com um sentimento de muita gratidão.
Sara Ferro
Cristina Perestrelo Vieira